A Náusea

outubro 24, 2007

Pois é, leitoras queridas, sei que estou em débito com as senhoritas. Há tempos quero escrever um novo post para saciá-las, mas tem sido extremamente difícil levar a cabo tais anseios. Não que falte assunto, muito pelo contrário, temas dos mais diversos “abundam” neste país horroroso e miserável que é o nosso Brasil-zil-zil, visto que não faltam fraudadores, corruptos e ladrões, em todas as esferas da vida pública e privada. Não podemos nos esquecer das inúmeras “produções cinematográficas”, ou como quer que se chamem as novas empreitadas em película ou mídias digitais que por aqui têm sido realizadas.

O que acontece, caríssimas, é que tenho andado como o Antoine do livro “A Náusea”, de Jean-Paul Sartre. Quando penso em tais temas e assuntos, sinto o estômago embrulhar, um desgosto profundo vem lentamente tomando conta de mim, e, por fim, acabo por me sentir indisposto para realizar qualquer tarefa. Se se tira a noção de engajamento do existencialismo sartreano, o que nos resta? Temo que a resposta seja a famigerada Náusea.

Sim, tenho acompanhado pelos periódicos os estapafúrdioscausos” de corrupção envolvendo nossos ilustresSenadores”. No sul do país, senador é um cavalo baio de muita idade. Penso que proveito temos nós em sustentar com altos salários, “auxílio-paletó”, e outros auxílios importantíssimos como esse, este bando de cavalos mancos que não servem para nada, nem para fazer sabão. Alguém suspirou democracia representativa? Deve ter sido um espasmo flatulento, visto que tal coisa não existe não. Nossos representantes democráticos votam secretamente, dentre outras estripulias de má , o que acaba por demolir esta idéia honrosa de democracia. Blearrgh! Desculpem-me. Como disse, quando reflito sobre estes temas ocorre-me certo rebuliço estomacal.

Pensei em escrever sobre a morte do comandante Che pela Gestapo (atual CIA), que completou 40 anos dia 08 de outubro. Mas escrever sobre o Che hoje é clichê. O pior seria escrever sobre o “mito” do Ernesto, e me assemelhar à revista Veja, e a toda esta porcada que se beneficia em mitificar a luta revolucionária. Como bem o sabem, queridas senhoras, mito é um relato fantástico, amplificado através do imaginário coletivo, e não corresponde ao real. (Urrrgh! ECA! Blearrrchh!) Três vivas para a Veja e seus discípulos, que transmutaram o ímpeto revolucionário mais bem-sucedido das Américas num mito. Preciso contar para as senhoras uma coisa. Certa feita estava eu na fila de um sujo banheiro de botequimnão que eu tenha o hábito de freqüentar tais lugares – de fronte a um cartaz que dizia: “O Banheiro é de uso exclusivo dos clientes”. Faz-se necessário acrescentar que os donos do boteco são um casal de argentinos, com bastante idade. O rapaz que estava na minha frente, vestia umas dessas camisetas com a foto do Korda, que imortalizou o Che. No entanto, ele não estava consumindo no bar. A senhora Argentina, gentilmente, chegou-se próxima ao rapaz e alertou: “Se o Ernesto estivesse aqui, não gostaria de saber que você não está consumindo…”, e o rapaz prontamente respondeu: “Que Ernesto? O seu marido?”. Sim, a Veja e sua gangue estão vencendo a batalha.Por esses e outros motivos, caríssimas, tenho me sentido doente. Fraco. Gostaria de ter um rifle e um punhado de explosivos, pra tocar fogo no circo. Mas sou também um bundão, e não posso mais sonhar com a revolução. Saludos señoritas! E até uma próxima (mesmo que não seja assim tão próxima).

Nossa, o que é que aconteceu? Na mesma semana, dois gênios do cinema se foram: Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni.

Estou tão chocado e triste que não sei o que escrever. Apenas recomendo que assistam e discutam todos os seus filmes.
Desejo também um “boa sorte” para nós que sobramos, pois é certo que ficaremos com menos arte e mais “Transformers” e bloquebosters do gênero daqui por diante.

abraços,

Mike Austin

março 27, 2007

Domingo passado, 1h30 da madrugada. O camarada me parou no meio da Alameda Santos. Cabelo castanho-claro desgrenhado e à moda do séc. XVIII (com aquele rabicó ridículo), olhos verdes, barbicha rala, linhas de expressão bem fortes, pinta de gringo – ainda que maltrapilho. Chegou falando um inglês perfeito, com sotaque do USAeabUSA e tudo mais. Segundo ele, não sabia português pois era um recém chegado ao Brasil. Apresentou-se como “Mike Austin”, professor da Graded School, uma escola bilingüe para os bem-nascidos da metrópole tupiniquim. Contou-me que no início da noite havia sido assaltado por dois pivetes na porta da FNAC da Paulista, e estes larápios tinham-lhe levado tudo (carteira, telefone, cartões de banco). Passou mais de três horas dentro da delegacia de polícia fazendo um B.O, e que os policiais não o compreendiam e não puderam ajudá-lo. Contou que morava no Brooklin e que precisava que alguém lhe desse uma carona, ou lhe emprestasse o dinheiro do táxi, afinal, naquele horário já não haviam mais ônibus. Afirmou que era difícil acreditar num papo daqueles numa cidade tão grande como São Paulo, perigosa, mas que eu o ajudasse por caridade, que ele poderia me devolver a bufunfa no dia seguinte sem probelmas. Estava com fome, cansado, e deveria acordar bem cedo no dia seguinte para trabalhar.

Convencidos? Pois eu fiquei. Tentei, com meu inglês macarrônico, dizer ao gringo que era um estudante, ou seja, um fudido, que não tinha um puto no bolso, que só o banco guardava ainda uma mixaria. Prontamente o Mike (ah, esse Mike!) me explicou que havia um caixa-eletrônico nas redondezas, ele sabia disso pois tinha ido pedir dinheiro lá por perto. Fomos até o Pão de Açúcar que tem ali na Consolação com a Paulista. A porcaria do caixa 24h só tinha notas de 50. Dei uma para o Mike. Com lágrimas nos olhos, nos despedimos, não sem antes o Mike, extremamente agradecido, fazer questão de me dar o seu e-mail (mikeaustin@yahoo.com) e o telefone da Heloísa (11 3778.4218), secretária da Graded School. Pediu para que eu entrasse em contato na manhã seguinte pois havia de me devolver a grana sem falta. Fui embora preenchido por aquele sentimento da caridade cristã, tão bom e tão sublime, de ajudar o próximo…

Malditos cristãos! Antes tivessem me ensinado que o ‘mundo de Deus’ não existe, e nosso planetinha chechelento está é cheio de filhos da puta! Caí no famigerado “Golpe do Gringo”. Cheguei em casa naquele dia, e, com a “pulga atrás da orelha”, resolvi mandar um e-mail pro Mike, que voltou em seguida. Telefonei e descobri que o número não existe. Ai que ódio! Que vontade de matar! Até agora estou com gastrite, e resolvi escrever como se fosse uma terapia, algo para me livrar do Mike e da caridade e dos cristãos molengas. Espero também prevenir minhas leitoras sobre o “golpe do gringo”.

 O caso é que o ocorrido me deixou pensativo. Assim, meditabundo mesmo. Quantos brasileiros já vieram me pedir dinheiro contanto histórias semelhantes? Imploraram mesmo que eu os ajudasse, sendo que as histórias eram inclusive mais dramáticas e tristes… e o que fiz? Dei um sonoro “NÃO” grátis. Isso é o que me deixa mais transtornado. Fui dar meu contado dinheirinho justamente para um gringo, absolutamente dentro da lógica do “don’t kill me, i’m your friend” (vão treinando, pois esta é uma frase muito útil para quando os marines chegarem). Ajudei o cara porque ele falava inglês, e, aqui na “filial”, quem fala a língua do império não é “pé rapado”, justamente porque se entende que alguém que fale a “língua geral” está bem de vida, consegue trabalho, honra seus compromissos, é “civilizado”, “ocidental”, em suma, é alguém gente fina.

Digitei no google “Mike Austin São Paulo” e encontrei mais três pessoas que também foram vítimas do Mike:

(http://trintaetres.zip.net/;

http://piadapronta.blogspot.com/ e 

http://abandonartotalmente.weblogger.terra.com.br/200701_abandonartotalmente_arquivo.htm)

 Há até uma singela comunidade no orkut: “Mike Austin – Eu caí”, da qual, com pesar, agora faço parte.

Como se não bastasse a malandragem que já era sentida por aqui, passamos a importar canalhas.

Viva o Brasil.

Putz, hoje que me dei conta de que faz um tempão que não escrevo nada neste blogue. A coisa ficou abandonada, traças e moscas rondam este sítio virtual como urubus sobre a carniça (que trágico!).

Mas o pior é que pensei: “porra, preciso escrever sobre algum filme que esteja em cartaz”, o que em tese é fácil já que em Sampa não faltam opções.

O quê? Eu disse que não faltam opções?? Melhor corrigir isto, pois o caso é que só tem merda em cartaz. E põe merda nisso. Não há latrina capaz de suportar tamanha vazão de excrementos. Não tenho a menor vontade de ser assaltado na bilheteria pra sair na metade do filme (ou antes dos primeiros 10 minutos).

Mesmo com este horizonte sombrio e tétrico, arrisquei assistir “Pro dia nascer feliz”, mesmo desconfiado que algo com um título tão ruim não poderia trazer nada de bom. E acertei na mosca. Entre uma pestanejada e outra, o espectador de “Pro dia…” será brindado com mais do mesmo. Nem vale a pena escrever sobre isso (a verdade é que dormi boa parte do filme, o que mostra que ele consegue prender a atenção das pessoas). Fuja. Pensei que ao menos me renderia uma boa crítica, mas nem isso. 

Deste modo, prefiro alugar filmes. Descolei uma locadora aqui perto que, embora custe os olhos da cara, está cheia de filmes bacanas (não divulgo o nome pois a tia não aceitou a proposta do jabá). No entanto, tenho alugado somente velhacarias, filmes lá do começo do século passado, a título de um curso sobre a história do cinema que estou fazendo. O curso é bom e os filmes dão “pano pra manga”, porém, decidi não encher os pacovás das senhoras com resenhas e críticas mofadas antes mesmo de serem escritas, dado o pequeno hiato que nos separa da época destas produções.

 Sendo assim, mesmo sendo tão místico como o Papa é casto (é uma ironia, por favor), declaro esperar por um “milagre”: ou só se tem feito porcaria no cinema ultimamente, ou os senhores magnatas da distribuição/ exibição é que têm um gosto altamente discutível. Talvez eles também devessem recorrer às locadoras de bairro.